Há mais ou menos 1 mês atrás li um excerto de um livro sobre arte que me fez refletir sobre a minha postura em relação ao trabalho que faço e à sua perfeição.
Partilho com vocês o excerto e aquilo que eu refleti.
“No primeiro dia de aulas, o professor de cerâmica anunciou que ia dividir a turma em dois grupos. Todos os alunos do lado esquerdo do atelier, disse ele, seriam avaliados apenas pela quantidade de obras que produzissem e todos os do lado direito apenas pela sua qualidade. O seu procedimento era simples: no último dia de aulas, trazia a sua balança de casa de banho e pesava o trabalho do grupo da “quantidade”: cinquenta quilos de vasos equivaliam à nota “A” (excelente), quarenta quilos com a classificação “B”, e assim por diante. Os que estavam a ser avaliados pela “qualidade”, no entanto, precisavam de produzir apenas um vaso – ainda que perfeito – para obter um “A”.
Chegou a altura da avaliação e surgiu um facto curioso: os trabalhos de maior qualidade foram todos produzidos pelo grupo que estava a ser classificado pela quantidade. Parece que, enquanto o grupo da “quantidade” estava ocupado a produzir pilhas de trabalho – e a aprender com os seus erros – o grupo da “qualidade” estava sentado a teorizar sobre a perfeição e, no final, pouco mais tinha para mostrar do que teorias grandiosas e uma pilha de barro seco.”
Art and Fear – David Bayles e Ted Orland
A minha primeira impressão seria que o grupo da “qualidade” produzisse um vaso de melhor qualidade, é claro, algo quase perto da perfeição. E isso diz muito sobre a minha postura em relação ao fazer.
Muitas vezes, com a vontade de fazer bem, de ter algo perfeito em mãos, deixo-me levar por teorias e acabo por não fazer nada.
Nas áreas da minha vida em que não posso perder tempo com teorias e que tenho que pôr “ a mão na massa”, vejo melhorias constantes e uma eficácia cada vez maior. Mas nas áreas em que me ponho a pensar, sinto-me muitas vezes bloqueada e agarrada à ideia que só tendo tudo esquematizado para atingir a perfeição é que poderei ter um bom resultado.
Claro que eu sei que isto está profundamente ligado ao meu (ainda existente) perfecionismo. Numas áreas sinto-me melhor e outras ainda vejo bastante caminho por percorrer.
E às vezes, são estas pequenas histórias que aparecem “de repente” que me despertam para aquilo que é urgente mudar.
Se estivesse a pensar a melhor forma de escrever este artigo para partilhar esta reflexão, provavelmente não o ia escrever. Aliás, só estou a escrever este artigo hoje, quando já há um mês ando a pensar como escrevê-lo.
Mas finalmente estou a escrevê-lo e a publicá-lo. E aos poucos, com pequenas mudanças e com “pequenas histórias” vou fazendo a diferença na minha vida.
Agosto foi um mês que passou “a correr”. Aliás, desde há uns tempos atrás que sinto que o tempo passa cada vez mais rápido. E isso faz-me refletir na urgência de aproveitar cada momento.
Se tiver que enumerar uma grande aprendizagem que estes 31 dias me trouxeram, é que ainda não tomei consciência da efemeridade da minha existência. E escrevo isto pois, apesar de sentir, por exemplo, que o tempo passa cada vez mais rápido, ainda dou por mim a desperdiçar tempo.
E o que é que eu quero dizer com desperdiçar tempo? É ficar sem fazer nada umas horas? É dormir uma sesta ou tirar uns momentos para descansar? Não, o que eu pretendo dizer é que passo muito tempo agarrada a coisas que não interessam. Seja preocupada com o futuro, seja preocupada que não gostem de mim, seja a alimentar universos paralelos que apenas existem na minha cabeça.
E todo o tempo que eu gasto nisso, é tempo que não volta. Portanto, uma das minhas intenções para o mês de Setembro é estar mais presente e em vez de me focar em coisas que não quero e que nem existem, dedicar-me àquilo que quero.
Apesar deste discurso um pouco “pessimista” no que toca à minha postura, posso dizer que com todo o trabalho interior que tenho vindo a fazer ao longo destes 11 anos, tenho vindo a tornar-me numa pessoa cada vez mais feliz e mais realizada. Ainda tenho um caminho a percorrer, mas estou imensamente grata a todo aquilo que hoje consigo fazer e que antes pensaria ser impossível. Muito obrigada!
Um dos melhores momentos deste mês foi ter a possibilidade de conhecer diversas pessoas de culturas diferentes que marcaram a sua presença aqui na Casa Escola. Saber que independente da língua falada, com boa-vontade poderemos sempre comunicar e sentirmo-nos em casa, foi algo que eu também aprendi.
Aproveito também para deixar uma curiosidade sobre mim: eu gosto muito de animais e sou responsável por cuidar dos animais felizes da Casa Escola. Portanto, no futuro provavelmente encontrarão conteúdo aqui no blog sobre isso.
Desejo que o mês de Setembro seja tão bom, ou até mesmo melhor que o mês de Agosto e que daqui a 30 dias esteja aqui a partilhar as minhas aventuras.
Obrigada Agosto!
Bem-vindo Setembro!
Ângela Barnabé
P.S. Podem seguir-me no Instagram, caso queiram acompanhar um pouco do meu dia-a-dia.
Um dia destes li uma frase que dizia mais ou menos isto: a versão de ti que está preparada para lidar com situações do futuro ainda não existe, porque essas situações também não existem ainda.
Isto fez-me refletir na minha (ainda) constante necessidade de querer sentir-me preparada para todos os cenários possíveis e imaginários e para a minha constante inquietação sempre que algo “inesperado” acontece.
A tendência é estar sempre a tentar controlar, a prever, a magicar para que em todos os momentos eu me possa sentir “segura” para lidar com o que está a acontecer. E o resultado qual é? Uma constante insegurança, o nunca estar satisfeita com o que consigo fazer e principalmente o sentir que não consigo usufruir de tudo aquilo que consigo alcançar.
Se eu tivesse uma conversa com o meu “eu” de há 5 anos, ou mesmo de há um ano atrás e enumerasse todas as situações com as quais tive que lidar durante este período, provavelmente a “Ângela” do passado entraria em pânico. E com razão, pois nessa altura eu não tinha tudo aquilo que precisava para lidar com o que lidei.
Mas com cada dia e com tudo aquilo que vou fazendo, vou construindo todas as ferramentas que preciso para “abarcar” situações cada vez maiores, projetos cada vez mais complexos e para reciclar aspetos em mim que me permitem ser uma pessoa melhor.
Muitas vezes questiono o porquê de tanta ansiedade, quando eu sei que no final tudo corre bem… Porquê tanta inquietação e controlo, quando as coisas acontecem como têm de acontecer e o melhor que posso fazer é deixar fluir e, em cada momento, decidir consoante o que me é apresentado, o que pretendo fazer.
Talvez, daqui a algum tempo, revisitarei este texto e verei que a versão de mim mesma que já consegue uma visão diferente da vida é resultado de outras situações, que hoje, ao escrever este artigo, ainda não tive a oportunidade de experienciar.
Até lá, sigo focada em melhorar sempre, nem que seja um pouco, a cada dia que passa.
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