
Já muito escrevi sobre as diversas técnicas às quais eu recorria para me alhear da realidade. Aliás, eu passava maior parte do tempo a fugir à vida e por isso acabei com tantos problemas e com uma postura tão grande de indiferença em relação àquilo que ia acontecendo à minha volta.
Hoje em dia, não posso afirmar que viva a 100%, porque provavelmente se isso acontecesse não estaria aqui a escrever este texto. Mas mais do que nunca tenho consciência da barreira existente entre mim e a vida, algo que eu criei e fortifiquei com as minhas atitudes.
Tenho identificado em mim o medo que eu tenho de sentir. Muitas vezes associei a minha falta de iniciativa no que toca a iniciar novas coisas ao medo ou em alguns casos ao meu pouco interesse na atividade, mas hoje vejo ainda uma variante, que apesar de não me impedir de tomar ação, me impedia de me entregar o que eu fazia.
Eu queria colher os frutos muito antes de fazer a sementeira. Queria começar a desenvolver algo e ter como ponto de partida a experiência e a segurança de alguém que já o fazia há muito tempo.
Eu queria ter a postura sem passar pela experiência. Queria ser assertiva e responsável, sem ter que passar pelo processo de tomar ações coerentes com aquilo que queria experienciar.
Eu queria confiar sem largar. Queria ver para crer. Queria que me nascessem as asas antes de dar o passo que era necessário para poder voar.
Para que uma coisa se possa transformar em outra terá que passar pelo seu processo. A seu tempo a metamorfose ocorrerá e podemos depararmo-nos com a nova criação.
Assim também acontece comigo. Para que eu possa ser alguém diferente, alguém que se sente melhor consigo mesma e com o mundo ao meu redor, terei que passar pelo meu processo.
Fugir ao sentir as etapas do processo é fugir a sentir a vida.
Todo aquele sofrimento que eu senti no passado e o que me fez ter medo de sentir, foi causado pela minha resistência ao que estava a acontecer e pelo meu negar daquilo que estava a sentir.
A primeira vez que fiz um bolo, não ficou nada de especial. Havia muitas melhorias a fazer e muito que aprender. Mas depois fiz o segundo, o terceiro e por aí em diante e hoje aqui estou a fazer bolos deliciosos.
Tive que lidar com todos os sentimentos que fizeram parte do processo e que me trouxeram até aqui. Tive que lidar com a dúvida, a falta de segurança, com as expectativas que punha e com a minha vontade de agradar. Hoje sinto segurança, confiança e sei que vai sair do forno o melhor resultado possível.
Se eu tivesse negado aquilo que estava a sentir, teria sido um colecionar de frustrações e um caminho sem qualquer tipo de aprendizagem.
O medo de sentir cria mais medo, mais desconforto e tudo aquilo ao qual tento fugir. A aceitação daquilo que estou a sentir permite-me aprender e coloca-me no lugar onde preciso estar para mudar aquilo que sinto, caso isso seja necessário.
Cada acontecimento, cada momento que vivi trouxe-me até onde estou hoje. Um encaixar de peças perfeitas que criam uma vida cada vez melhor a cada dia que passa.
Obrigado!
Ângela Barnabé