Associo sempre o mês de Abril a mudanças. Não é estas não ocorram ao longo de todo o ano, mas sinto que as grandes viragens na minha vida se deram principalmente no quarto mês do ano. Quando “avisto” o início de Abril, aguardo com expectativa as transformações que este novo ciclo me trará.
Este ano não foi exceção à “regra” e encontro-me, enquanto escrevo este texto, a refletir sobre a quantidade de situações que despoletaram mudanças na minha vida ao longo destes 30 dias.
Deixo aqui algumas lições que estas mudanças me trouxeram e que gostaria de partilhar.
Por todo o lado oiço que a zona de conforto não é nada confortável, é apenas uma zona conhecida e que me tenho que desapegar dela. Apesar de saber disto, ao longo deste mês fui “confrontada” com diversas zonas de conforto e com a urgência em larga-las. Algumas foram mais simples de deixar ir e a outras resisti em deixá-las.
Isto fez-me pensar em quanto ainda procuro o conhecido para me sentir segura, quando a segurança não tem a ver com o que acontece, mas sim com aquilo que sinto e com a forma como lido com o que acontece.
Para além disso fiquei sempre com a ideia presente que não interessa aquilo que sei, mas sim aquilo que sinto e faço. Eu sei que sou eu que escolho sentir-me bem ou mal. Eu sei que a minha realidade é um reflexo de mim mesma. Mas não é por saber tudo isto que aceito e agradeço tudo o que está a acontecer em vez de rejeitar. Constantemente tenho que me relembrar da minha responsabilidade em relação a tudo aquilo que vivencio.
E isto leva-me ao último ponto: tudo é um processo.
Relembrar-me daquilo que sei é um processo. Aceitar e agradecer mais é um processo. Sentir-me cada vez melhor comigo mesma é um processo. E quanto menos julgar todo este processo, melhor ele irá fluir.
Muitas vezes dou por mim a pensar nas possibilidades daquilo que poderia ter num dado momento. Reflito nas minhas ações, nas minhas decisões e penso: “se eu queria algo diferente, porque é que eu não fui mais clara naquilo que pretendia?”.
Porque é que em vez de ter andado à deriva, não me sentei e não refleti naquilo que realmente queria experienciar?
Para saber para onde ir, que ações tomar e que rumo seguir, tenho que, para além de saber onde estou, saber para onde quero ir.
É verdade que a vida me encaminha sempre para aquilo que é melhor para mim, para aquilo que eu realmente preciso para o meu crescimento, mas se eu, a pessoa que tem o comando da minha vida, não sei qual é o rumo que quero seguir, como é que eu posso querer alcançar os meus objetivos?
Se andar atrás do que não quero apenas conseguirei fracassos. Se me deixar andar perderei toda a paixão pela vida e pelo constante crescimento pessoal…
Tenho que saber o quero. Sem medo do fracasso, sem dúvida se conseguirei alcançar os meus objetivos.
Se eu quero realmente algo e se isso for o melhor para mim, no momento certo serei presenteada com isso mesmo. Se não for o melhor para mim, serei encaminhada para outro percurso onde encontrarei aquilo que está em harmonia comigo.
Tenho que saber o que quero, pôr ação, largar e confiar que o Universo encarregar-se-á de tudo o que é necessário para trazer até mim o melhor.
Sempre ouvi dizer que o conhecimento não ocupa lugar. Pensava que quanto mais conhecimento eu tinha, melhor eu podia tornar a minha vida. Então comecei a acumular conhecimento, mas a minha vida não melhorava.
Sabia o que devia dizer, o que devia pensar, como me devia sentir, mas ainda assim a vida não fluía como devia.
Então comecei a prestar atenção a mim mesma.
Eu sabia que me devia sentir segura, mas no fundo faltava-me a confiança. Sabia que devia pensar no melhor que podia acontecer, mas não deixava de me focar no pior.
Do saber para o fazer vai uma grande distância. Aliás, saber sem fazer não vale nada.
Por exemplo, eu quero ir a Lisboa. Sei que tenho que procurar o melhor meio de transporte para me deslocar. Sei que tenho que me preparar para sair. Mas continuo sentada no sofá. Saber o que quero fazer não me adiantou de nada, pois ainda estou sentada no sofá à espera de chegar a Lisboa.
Saber o que é necessário fazer nunca mudou a vida a ninguém.
É necessário decidir. É necessário dar o primeiro passo.
Dei muitas vezes por mim a enumerar mentalmente aquilo que eu queria fazer; dei por mim a projetar a imagem de uma Ângela segura e confiante, mas depois o que é que eu fazia?
Nada! Sabia o que era a melhor coisa a fazer, falava sobre isso e quando era a altura de agir, aquilo que eu verdadeiramente sentia aflorava e pronto, o conhecimento era esquecido.
Não estou a dizer que só posso falar de coisas que faço 100% do tempo, porque ainda existem (muitos) momentos em que me deixo levar pela aparência.
Estou a realçar que falar de uma coisa e fazer outra é uma forma de autodestruição. Porque no fundo eu não engano os outros, eu tento enganar-me a mim mesma.
Porque eu sei o que penso, sei o que sinto e sei o que faço. Se todos estes três pontos não estiverem em harmonia, não passa tudo de uma mentira?
A admiração. Deixe que o seu coração dance maravilhado. Encha-se de admiração: pulse com ela, inspire-a, expire-a. Por que ter tanta pressa para conseguir a resposta? Você não pode deixar que o mistério continue sendo um mistério?
Eu sei que é grande a tentação para não deixar que ele continue sendo um mistério, para reduzi-lo a um conhecimento. Por que existe essa tentação? Porque, quando você se encontra repleto de conhecimento, está no controlo.
O mistério controlará você, o conhecimento o deixará no controlo. O mistério o possuirá. Você não pode possuir o mistério: ele é vasto demais e as suas mãos são muito pequenas. Ele é tão infinito que você não pode possuí-lo. Tem que ser possuído por ele — e esse é o seu medo.
Você pode possuir e controlar o conhecimento, ele é tão trivial… Essa tentação da mente de reduzir toda maravilha, todo mistério, a uma pergunta é pautada basicamente pelo medo.
Temos receio do que é extraordinário na vida, desta incrível existência. Estamos amedrontados. Por causa desse medo, criamos alguns pequenos conhecimentos à nossa volta como uma proteção, como uma armadura, uma defesa.
Só os covardes reduzem a meras perguntas a capacidade incrivelmente valiosa de se maravilhar. A pessoa realmente valente, corajosa, deixa as coisas como são. Em vez de transformar a maravilha em uma pergunta, ela mergulha no mistério. Em vez de tentar controlá-lo, ela deixa que o mistério a possua.
A partir do estado de admiração, existem dois caminhos. Um é o do questionamento — o caminho errado. Ele leva-o a acumular cada vez mais conhecimento. O outro é não questionar, mas deleitar-se. Deleite-se com a maravilha que é a vida, a maravilha que é a existência, as maravilhas que são o sol, a luz do sol e as árvores banhadas com seus raios dourados.
Viva a admiração. Não coloque depois dela um ponto de interrogação. Deixe-a ser como é.
“Arte pela arte”, dizem por aí. Pode ser que sim, pode ser que não — não sou artista.
Mas posso dizer a você: a vida é só para ser vivida. Cada momento vale por si mesmo. Sacrificá-lo em nome de outra coisa é falta de inteligência. E depois que o hábito de sacrificar se instala, você passa a sacrificar este momento pelo seguinte, o seguinte pelo que vem depois e assim por diante — este ano pelo seguinte, esta vida pela seguinte! Trata-se de um processo simples e lógico: depois que você deu o primeiro passo, inicia toda a jornada — a jornada que o leva a um deserto estéril, jornada que é autodestrutiva e suicida.
Viva o momento pelo alegre prazer de vivê-lo. Viva sem o sentimento de dever, sem imposições, sem obrigações, sem mandamentos. Você não está aqui para ser um mártir: está aqui para aproveitar a vida ao máximo.
E a única maneira de viver, amar e ter prazer é esquecer o futuro. Ele não existe. Se você conseguir esquecer o futuro, se puder ver que ele não existe, não há por que se preparar constantemente para ele.
No momento em que o futuro é deixado de lado, o passado passa a ser irrelevante por si só. Nós carregamos o passado de modo a poder usá-lo no futuro. Do contrário, por que carregaríamos o passado? É desnecessário. Se não existe futuro, para quê carregar o conhecimento que o passado lhe proporcionou? Trata-se de um fardo que acabará com o prazer da jornada.
E deixe-me lembrá-lo de que se trata de uma pura jornada. A vida é uma peregrinação para lugar nenhum — de nenhum lugar para lugar nenhum. E entre esses dois pontos está o aqui e agora. O lugar nenhum consiste em duas palavras: aqui e agora.
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